quarta-feira, 24 de junho de 2009

extremos da paixão.

- ele disse que não sabe o que faz se eu for até lá.
- e você vai?
- vou.
- nervoso assim, qualquer um pode fazer besteira. e se ele te bate?!
- se ele fizesse isso... se ele me bater, quem sabe a raiva dele não passa e ele volta pra mim...?

não foi comigo. a este diálogo e ao resto dele eu só assisti. bem, ela foi... e eu desejei boa sorte.

(...) andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. o que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. só que dói mais. quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a) - mas a morte é inevitável, portanto normal. quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. e dói mais fundo - porque se poderia ter, já que está vivo(a). mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
pensando nisso, pensei um pouco depois em boy george: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. lembrei de john hincley jr., apaixonado por jodie foster, e que escreveu a ela, em 1981: "se você não me amar, eu matarei o presidente". e deu um tiro em ronald regan. a frase de hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. a atitude de boy george - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. penso em werther, de goethe. e acho lindo.
no século XX não se ama. ninguém quer ninguém. amar é out, é babaca, é careta. embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. mentira: compreendo sim. mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. o que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. e exigimos o terno do perecível, loucos.
(...) andei pensando em adèle h., em boy george e em john hincley jr. andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. num bar qualquer, numa esquina da vida.
ai que dor: que dor sentida e portuguesa de fernando pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. pois como já dizia drummond, "o amor car(o,a) colega, esse não consola nunca de núncaras". e apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
- caio fernando abreu

foi o que me veio à mente. e roubo de caio cada palavra, cada letra, cada vírgula.

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