quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Enquanto ele não chegar

quantos dias eu ainda vou esperar
e quantas estrelas eu vou tentar contar?
e quantas luzes na cidade vão se apagar
enquanto ele não chegar?
eu tenho andado tão sozinho
que eu nem sei em que acreditar
e a paz que busco agora
nem a dor vai me negar.

quantas besteiras eu ainda vou pensar
e quantos sonhos no tempo vão se esfarelar?
quantas vezes eu vou me criticar
enquanto ele não chegar?

(Frejat)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Refrão de um bolero

eu pago meus pecados
por ter acreditado que só se vive uma vez
pensei que era liberdade
mas, na verdade, era só solidão.

e eu que falei:
"nem pensar"
agora me arrependo
roendo as unhas,
frágeis testemunhas
de um crime sem perdão.

se eu soubesse antes o que sei agora
erraria tudo exatamente igual...

(Humberto G.)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O desassossego.

Fernando Pessoa

tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. a minha alegria é tão dolorosa quanto a minha dor.

Que então me respira e eu te respiro...

Clarice L.

eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti. só há uma coisa que me separa de você: o ar entre nós dois.

às vezes para ultrapassar esse quase cruel afastamento, eu respiro na tua boca que então me respira e eu te respiro.

mas só por um único instante, senão sufocaríamo-nos: seria o castigo que se recebe quando um tenta ser o outro.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

limite branco.

caio f.

então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

no matter what










i'm by your side
no matter how far.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

você e a noite escura

às vezes eu me sinto um fantasma, arrancando flores no jardim à meia-noite. penso em você e sigo despedaçando.
pétalas ao vento na tempestade.
pétalas vermelhas.
tô com saudade de você.
de você.

e as ondas vêm me cobrir na noite escura.

às vezes eu não sei se é a noite, ou se é a vontade de te ter agora.
agora.
eu penso em você e sinto a tempestade desabar por dentro e por fora.
eu penso em você e sinto toda a vontade do mundo, de te ter agora, agora.

você.
agora.

(Lobão)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Em lugar de uma carta.

fumo de tabaco rói o ar.
o quarto —
um capítulo do inferno de krutchônikh.
recorda —
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
hoje te sentas,
no coração — aço.
um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
no teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua .
transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
de qualquer forma
o meu amor
— duro fardo por certo —
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
e não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos — rodopiante carnaval —
dispersarão as folhas dos meus livros...
acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

1916