sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Em lugar de uma carta.

fumo de tabaco rói o ar.
o quarto —
um capítulo do inferno de krutchônikh.
recorda —
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
hoje te sentas,
no coração — aço.
um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
no teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua .
transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
de qualquer forma
o meu amor
— duro fardo por certo —
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
e não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos — rodopiante carnaval —
dispersarão as folhas dos meus livros...
acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

1916

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