domingo, 30 de agosto de 2009

...

Não olhe para mim com estes olhos de culpa de quem nada pode fazer pela minha dor. Entenda, meu querido, ser você o motivo pelo qual eu choro hoje não te faz senhor das minhas lágrimas. Sabe que não consigo agir com rudeza contigo, mas, ouça bem, o que sinto por você é um problema meu. E de mais ninguém. Não encho de dedos uma só mão com quantas pessoas ouvem meus lamentos, aprendi a sorrir enquanto sangro e a passar aos outros a calma que não tenho. Me envergonho de ser gente quando sou obrigada a admitir que nós, seres humanos, só aprendemos quando não há mais o que se fazer; foi só quando me vi de mãos atadas ao pescoço que me dei conta de que mais nada estava ao meu alcance.
Os pintores, meu bem, passam a vida inteira tentando encontrar o tema certo. Seu próprio tema, pessoal e intransferível, seu objeto de paixão, o que inspira. Diz-se que os que encontram enlouquecem, pintam oitenta vezes a mesma coisa, viram escravos do ardor, nunca mais se libertam do que tanto procuraram. É o que os move, o que os alimenta, o que faz nascer sua arte; uma outra vida entre o cheiro de terebintina e o chão sujo de tinta. Eu, meu amor, mal sei segurar um pincel e não sou, definitivamente, uma artistas das telas – e por ser uma mera mortal, não sei o que fazer com este tema que encontrei e que é fardo pesado demais para estas minhas mãos que jamais reproduziriam um traço sequer: você.
Por que, meu Deus, foi cair esta cruz logo sobre meus ombros? Se eu soubesse pintar, meu bem, com certeza pintaria sua mão centenas de vezes. Viveria cercada das telas que haveria feito das duas mãos mais bonitas que já tive o prazer de ver. Pintaria seus cabelos, seus pequeninos cachos, os fiozinhos avulsos e espiralados que caíam sobre sua testa... Pintaria seus olhos, traduziria em cor toda a calma, toda a leveza... Pintaria seus ossos tão sutis, tão bem definidos, tão confortáveis... Pintaria a cor da sua pele com alguns tons de sol misturados à café... Pintaria suas curvas... Pintaria com riscos firmes os traços tão fortes do seu rosto, com corres gritantes e melancólicas, porque nem sempre a reprodução tem a obrigação de ser fiel à realidade. Faria como quisesse, seria o criador e a tua imagem minha criatura, usaria as cores que bem entendesse, a escala que bem entendesse, o formato que bem entendesse.
É uma pena que não tenha nascido dotada de tal bênção. A única coisa que me cabe tentar são as palavras, e nem com elas consigo chegar perto de você. Elas sempre me fogem quando tento contar ao papel sobre meu sentimento. Só minha garganta tem esboçado qualquer reação sobre você ultimamente, não sei mais como amansar este nó que me restou, este engasgamento, essa angústia querendo saltar pela minha boca. Meu amor, não é mais tristeza o que sinto, é frustração. Um sentimento de derrota que não suporto mais. Quantas vezes ainda vamos começar do zero? Quantas vezes ainda vou te perder para sempre? É a primeira vez que te vejo toda vez em que te vejo. Não sei onde termina meu amor e onde começa minha obsessão. Sei quando é loucura e quando não o é, e das poucas certezas que tenho, a primeira delas é que inventar nosso encontro não foi mera insensatez.
Quando você se for, meu bem, quando você se for de verdade, quando você crescer, quando você escolher uma estrada na qual eu não estou, isto tudo parecerá uma quimera. O que vivo terá cheiro de sonho, de realidade paralela. O que levarei de real e palpável destes tempos tão ingratos quando o futuro finalmente chegar? Quando você se for, meu amor, o hoje será um buraco, uma mancha negra sem cor, sem vida. Quando você se for, até as lembranças morrerão. Um filme, uma música, um livro, uma novela... Você, o personagem principal no enredo em que eu vou figurar. Um anjo, demônio, qualquer criatura que me aproximou de Deus ou do Diabo. Você vai ser somente o que não chegamos a ser. Tudo o que sou hoje.
Me divirto ao me lembrar das brincadeiras que não fizemos, gosto da lembrança do cheiro dos abraços que não nos demos... me alimento do gosto bom que tenho dos beijos que não te dei.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

outra vez.

você foi
toda a felicidade,
você foi a maldade
que só me fez bem...
você foi
o melhor dos meus planos
e o pior dos enganos
que eu pude fazer...

das lembranças
que eu trago na vida,
você é a saudade
que eu gosto de ter!

só assim
sinto você bem perto de mim
outra vez...

(roberto carlos)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

pela noite.

caio f.

Imitou a voz melosa: Ôi-tudo-bem-e-aí-tô-ligando-pra-saber-se-você-vai-fazer-alguma-coisa-hoje-à-noite. Como se a gente tivesse obrigação de fazer alguma coisa toda noite. Só porque é sábado. Essa obsessão urbanóide de aliviar a neurose a qualquer preço nos fins de semana, pode? Tenho vontade de dizer nada, não vou fazer absolutamente nada. Só talvez, mais tarde, se estiver de saco muito cheio, tentar suicídio com uma-dose-excessiva-de-barbitúricos, uma navalha, ou um bom bujão de gás ou algo assim. Se você quiser me salvar, esteja a gosto, coração. God! Um dia acabo mesmo dizendo, PORRA.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

I'm still young and foolish, my heart can break a hundred more times before I'll get cold and evil, and it wouldn't be so bad if all those heartbreaks were with you.

domingo, 16 de agosto de 2009

demais.

todos acham que eu falo demais
e que eu ando bebendo demais...
que essa vida agitada
não serve pra nada,
andar por aí
bar em bar, bar em bar

dizem até que ando rindo demais
e que conto anedotas demais,
que não largo o cigarro (...)

o que ninguém sabe é que isso acontece porque
vou passar minha vida esquecendo você...
e a razão por que vivo esses dias banais
é porque ando triste, ando triste demais...

e é por isso que eu falo demais,
é por isso que eu bebo demais
e a razão porque vivo essa vida agitada demais
é porque meu amor por você é imenso
o meu amor por você é tão grande...
é porque meu amor por você... é enorme
demais.

(tom jobim)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

máquina de pinball.

pára tudo e me dá um beijo, esquece tudo. auto-sabotagem. dessa vez era sério e o pânico de ter jogado tudo fora, bitucas de cigarro apagadas e amassadas e despejadas no lixo, tomou conta de mim de tal forma que só conseguia respirar curtinho e pensar que merda, que merda, pra quê? porque sim. porque esta é a minha chance de me redimir de tudo pra mim mesma, de mostrar que posso andar na linha, mesmo que ela fique em cima de um muro de dois metros. fazer as coisas como elas têm que ser uma vez, pela primeira vez, sem manchas. (...)
pára. pára tudo.
pára de cagar regra sobre como devo fazer o que faço. pára!
não me julga. não me olha com pena nem desprezo. (...) esquece, desce daí, te vejo aqui do meu lado, não quero saber de você é foda e lindo e se vai me dar mais uma chance. se não der, não vai ser apenas problema meu, não é só virar as costas como quem desiste do restaurante porque é caro ou demorado ou porque o garçon botou o dedo no nariz. somos dois. a merda foi minha, admito, me ajoelho, não consigo nem chorar porque seria ridículo e exagerado fazer isso na sua frente. mas conto. digo que chorei, e chorei mesmo, choro doído, travado. com pessoas de voz aguda que me olham de cima a baixo na casa escura e enorme e gelada e cheia de morangos e comidas e pessoas e longe de você.
longe nada. longe é agora, longe é quando você ignora minha tentativa de redenção. fui pra te ver. vou de novo, desisto de tudo, talvez me arrependa mas desistiria de tudo, trabalho, braço, perna, mão. eu quero você. mas não tenho. (...)

sou mesmo uma idiota, adolescente descontrolada que fez a maior merda, a coisa mais errada, escolhida inconscientemente a dedo para tornar tudo mais difícil e irreversível e dolorido, porque o drama me move, me mexe, me empurra pra frente ou pro lado ou pra cima ou pra onde quer que eu tenha que ir.

- clarah

soon.

- vou me apaixonar por ele, e o primeiro passo pra isso acontecer é eu fingir que não.
- demorei tempo demais pra descobrir que essa é a coisa mais óbvia do mundo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

opener.

Pega fogo na floresta
E o caminho é perigoso
Pegou no canivete
E lavou com água do rio
E ela disse:
- Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa

- Ele é tão contemporâneo
Ela é tão expressionista.

Corri pro esconderijo
E olhei pela janela...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

pra você guardei o amor.




pra você guardei o amor

que nunca soube dar,
o amor que tive e vi sem me deixar
sentir sem conseguir provar,
sem entregar
e repartir.

pra você guardei o amor
que sempre quis mostrar,
o amor que vive em mim vem visitar,
sorrir, vem colorir solar,
vem esquentar
e permitir...

quem acolher o que ele tem e traz;
quem entender o que ele diz
no giz do gesto o jeito pronto
do piscar dos cílios
que o convite do silêncio
exibe em cada olhar.

guardei
sem ter porque,
nem por razão,
ou coisa outra qualquer
além de não saber como fazer
pra ter um jeito meu de me mostrar...

achei
vendo em você
e explicação
nenhuma isso requer...
se o coração bater forte e arder
no fogo o gelo vai queimar (...)