domingo, 3 de janeiro de 2010

Para não esquecer

Sabe Deus o que deveria eu fazer para me livrar de todas estas nuvens carregadas que pesam mais do que suporta meu peito. Que a distância que me invade não torne a espera insuportável e nem tinja de preto a saudade tão colorida que me move por dentro deste tempo de espera, de lentidão. É doce a companhia do silêncio e de tudo o mais que permite ao pensamento diminuir tudo o que me separa do que vem de longe, porque o que não posso segurar nas mãos é meu, é tudo o que jamais me será arrancado. Quando você deixou de me amar, aprendi a perdoar e a pedir perdão; aprendi também a não por a culpa do que não está errado no pânico de querer ser certo. Foi o Desespero quem me ensinou a estar calma, e não precisei de toda aquela força que tanto me esforcei para acumular. O sacrifício vão custou caro demais à minha sensibilidade tão frágil, tão absurda. Cantei sobre amores perdidos, sobre ser só, sobre a falta de fé e sobre o dolorido de ser o esquerdo. De solidão morri e cheguei ao inferno mais de sete vezes, com um abraço ou um berro. Nem sempre quis estampar na testa a tristeza, mas o visível é esperto e poderoso. O fundo dos olhos diz, baixinho como um sussurro, que já não suporto mais o estupor, que me cansei, que ultrapassei o intolerável mas que mais do que nunca agora posso caminhar em paz. As cicatrizes são muitas, mas não são variadas – são todas iguais até que se prove que existe outra dor. Se corro pelo meio e sem ninguém por perto é porque não tenho onde me apoiar, e alcancei então o equilíbrio que me fazia falta quando a corda bamba balançava e eu só conseguia estagnar e sentir medo sentir medo sentir medo. Sonhava e não sabia o que fazer com as mãos, tremia e ordenava a mim mesma que não mais sentisse que o espaço não me quer, que só existe um corpo onde eu possa morar e que tudo acaba onde chega o final. Não posso mais desejar que a felicidade que não veio a mim não venha a mais ninguém, não devo mais me permitir sentir a inveja que tanto corroeu meu estômago por dentro volte quando quiser. Compreende, meu amor? Compreende agora por que fui obrigada a renunciar à minha vontade de não desistir? Que minha loucura não seja capaz de me impedir os olhos de enxergar que o mundo nunca precisou de mim. Fatalmente passará, passarão. Eu, tu, eles e todos mais que ainda vão chegar. Foi a vontade de ficar que me fez ir embora, porque não posso permanecer se não for para curar feridas, e as tuas nunca quiseram minha ajuda. Vou para o que me chega primeiro, para onde não preciso pedir licença para entrar, para de onde vem o socorro. Bombas-relógio se grudando em mim como tatuagem e eu prestes a explodir pelo que nasceu fora de mim a qualquer momento, ninguém nota como qualquer instante pode ser o último, a não ser eu.

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