Queimei ontem nossas memórias.
Junto com todos os planos que fizemos juntas e o resto deles que mentalizei sozinha, transformando assim em cinza um passado incompleto e um futuro já deficiente ainda no ventre de nossas vidas. Ninguém, minha querida, – leia bem – ninguém sabe quanta dor senti para parir essa derrota pesada que fez com que eu me enxergasse outra vez dentro desta esfera solitária de frustração, total impotência depois de tanto esforço para manter cada coisa em seu lugar, para te manter em seu lugar, para me manter por você mesmo que este não seja meu lugar, para existir para nós algum lugar. Te conheci tão bem, nem imagina! Desde o primeiro momento, acredite, nunca fui ingênua, sempre soube com muita lucidez o que haveria de encontrar, meu bem, mas o amor não só me grita pelo nome como me puxa pelos cabelos e me beija na boca – e então de que forma eu preencheria o buraco em meu coração se ignorasse que me apaixonei pela tua voz no segundo em que a ouvi? Tenho os ouvidos abertos e olhos acesos, meu amor, sentidos a flor da pele para o mundo e recebo de peito aberto toda esta inflação incontrolável de sentimentos... porém calo. Sempre soube, tu e eu. A verdade é que o que me deixa cicatrizes é essa seqüência ininterrupta de mágoas afiadas como faca que não me deixa respirar; não existe tempo para mim. E sem trégua a vida me estapeia com uma mão e me afaga com a outra, de porre em porre vai me desmentindo, e me desgasto lentamente, cigarro a cigarro, bem diante dos teus olhos.
Pequei, eu sei. Pequei e sou réu confesso, e como pecadora peço perdão a um céu onde pra mim só existe amor e consigo segurar o perdão em minhas mãos. Mas não posso engolir teu sofrimento, minha querida, quem me dera pudesse...
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Um comentário:
memórias e mágoas... malditas.
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