segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Satori in São Paulo

Abracei o travesseiro, enrolei as pernas contra o cobertor e dormi sem enxergar a ausência de você ao meu lado. Quando acordei, era a sua blusa que eu vestia, o seu cigarro que ardia meus pulmões e o seu bilhete a última coisa que li antes do porre apagar todos os meus sentidos. Não posso evitar viver assim cercada de coisas tuas esquecidas por aqui porque toda as vezes que penso em me livrar de uma vez por todas da sua presença, é como se sentisse outra vez a dor que senti quando te arrancaram de mim – como se me arrancassem a pele a sangue frio. Mañana sin ti, sol frio, café velho, moscas en la casa, ressaca. Não a ressaca da noite anterior, meu bem, mas a ressaca que vive em mim; a ressaca deste tempo que vivi contigo, da embriaguez do que sempre me pareceu amor, e que de repente se foi e se desfez como que da noite pro dia, e agora é só a tristeza, a lembrança, a saudade. A dor. A-maior-dor-do-mundo, com calma, para ser lido com o peso do cansaço destes meus olhos que já não agüentam mais chorar, que já não agüentam mais ficar abertos dias e noites, que já não agüentam mais te caçar por aí em todas as esquinas por onde passo sem encontrar nem restos de você.

I don't know if life is greater than death, but love was more than either. Ou pelo menos é o que diz uma história bonita, mas me explica, minha querida, me explica... o que acontece quando um amor é menor do que a própria vida e acaba enquanto a morte vem rondando traiçoeira maior do que qualquer coisa que possa ter vindo antes?

Não acontece nada.

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