o mundo todo que não tem você é ainda mais você. e assim me relaciono. com o risco de giz branco em torno do corpo que já foi levado do chão. sempre me apaixono depois que acaba a paixão. sempre namoro quando acaba o namoro. só assim sei amar. e então te carrego no peito e em tudo, ao ir sozinha ou mal acompanhada ao cinema. e então janto com você e como bem e até bebo. e passamos sem perceber uma vida inteira. só porque agora você se foi, é que sinto que você chegou de verdade. e assim namoramos tão bem e sou tão agradável. e é com você que vou até a esquina e o fim do mundo, porque posso tudo agora. agora que não posso nada. daqui vejo milhares de pessoas e boas intenções e motivos pra ser feliz. mas onde eu estou? adivinhe? estou em casa, sozinha, como se não houvesse nada. como se tudo isso fosse cruel justamente por ser bom. o bom acaba. mas isso aqui, o refúgio da ansiedade e da alegria, essas duas coisas do demônio, isso aqui é verdadeiro e é daqui que estou, na verdade, no meio de todas essas pessoas boas e os motivos pra ser feliz. é só daqui. então, quero ir embora. (...)
é de onde não se pode estar que tenho saudades.
é para o lugar do qual fugi que vou quando corro. é no lugar insuportável que fico quando descanso de algo que não aguentei. é na falta que vivo. o tempo todo sendo a mulher pra você que nem você quer. o tempo todo sendo a mulher que você não vê mais e só por isso, agora, te vejo o tempo todo. é te amando tão infinitamente que me liberto de gostar pelo menos um pouco de você. (...)
você reclamava que eu não dizia seu nome e isso era só porque eu o estava dizendo o tempo todo. (...)
você não está e me olha como nunca. você merecia ser amado assim, do jeito que acaba pra começar. uma covardia só pra quem aguenta firme. sempre no oco me preencho tanto que explodo. é no nada que está tudo aqui. e quando me perguntam de onde vem essa pressa, esse desespero, essa corrida, o sopro no coração, essa ânsia, a força, essa agressividade. de onde vem? eu digo que vem de uma preguiça enorme.
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