Para alguém que muito amou.
Por onde andará o doce?
Em meio a estas curvas tão fechadas que levam o amor à concretização da obra é muito fácil se perder. Deve andar vagando por aí. Ou então foi de encontro ao ponto que corrompeu tantas almas neste mundo, por trás dessa visão comum a uns poucos, que se reconhece apenas depois de ter carregado peso nos ombros o suficiente para entender o quanto doem, que cria esta estranha intimidade entre estranhos. Tenho certeza que está muito, muito além das palavras. Uma doença criada por décadas e décadas; não é mais espantoso que alguns pobres corações tenham nascido com a missão de tomar conta do mundo. Tendo sentido o doce uma única vez, é impossível deixar de procurá-lo, eu sei. O elo de transição que separa a loucura da arte foi sumindo aos poucos, não foram só os cegos que deixaram de ver.
Talvez agora já tenha conhecido o paraíso, o fogo que saia das tuas mãos - assim como o que sai do estômago dos dragões -, há muito já se apagou. Como já dissera uma vez Otto Lara Resende: "não se trata de literatura, mas de bruxaria".
E eu? Bom, eu continuarei buscando o doce por aí.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Anotações sobre uma pequena epifania.
“Eu disse: a lua está tão bonita que me dói por dentro. Ele não entendeu.”
Doeu. Virei para o lado, como num surto muito repentino de pensamento, um flash, passou rápido, ou devagar, não saberia precisar. Fechei os olhos e vi, dançando bem alí, na minha frente, infinitas cores. Bonitas, talvez, não sei. Fui remetida à um ritual. Pressionei as pálpebras, ficaram mais fortes, mais vivas. Corriam, de um lado para o outro, se exibindo aos meus olhos fechados; admirei o encanto daqueles sinaizinhos por alguns segundos que, depois, me pareceram ter sido horas. Desejei ardentemente que não desaparecessem. Abri os olhos, algumas ainda restavam, embora fossem se escondendo rápido, como se fugissem da luz que de repente rasgou o cenário negro daquela dança estranha, de cores. Pareciam astros, imaginei um céu e fechei de novo os olhos, tentando retomar aquilo que, para mim – no momento, pelo menos -, era quase mágico, mas todas elas haviam sumido. Meus pequenos astros se assustaram com a luz, pensei, e me pareceu cruel visto dessa forma; abri os olhos novamente, eles se foram. Enxerguei a parede, os azulejos muito limpos, a cozinha sempre branca. Empurrei o corpo um pouco p’ra baixo na cadeira, me movimentei para as lados ajeitando confortavelmente a coluna no encosto almofadado, concentrei minha mente no livro e voltei a ler.
“É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar.”
Meus olhos, não sei se contra minha vontade ou não, saltaram para fora daquelas palavras tão vivas, olhei para frente e vi um relógio. Não, não era um relógio, era só uma parte dele. O miolo, eu diria, só a pequena maquininha com algumas engrenagens minúsculas e dois ponteiros, não haviam números, nada, era apenas uma parte de relógio, assim, nu. São essas bondades penosas que me doem, eu refleti, quase como uma conclusão, uma descoberta, uma solução. E era tudo tão simples a minha volta que, por um instante, uma fração de segundo, eu achei que não poderia suportar. Como suportar essa simplicidade tão bonita e tão frágil de tudo que me cerca e me completa assim, simplesmente? Uma ternura estranha, grande, gorda, pesada, pareceu ter caído sobre mim, da mesma forma como havia acontecido outras inúmeras vezes, e eu não sabia da onde vinha; não vinha de lugar nenhum. As palavras, eu disse baixinho como um sopro, as palavras estão vivas, e me assustei; as palavras estão vivas, prossegui, as palavras estão vivas e me corroem por dentro. Não era só alí, naquela cozinha branca e limpa, com aquele cheiro de fim de tarde cinzenta, naquela solidão de casa grande, mas em todos os lugares. Um monstrinho interior que estava cansado, que avançava em cima de cada pedaço de sentimento que me chegasse perto. Quantas pessoas não fizeram disso um motivo para se perder, quase gritei, esperando uma resposta, fosse do livro, da parede, das cores, das palavras, de mim mesma. Uma piedade desumana brotou sem porquê. O relógio estava alí, parado, bem na minha frente, indefeso. Imaginei qualquer pessoa o atacando com força no chão, e ele se quebraria, se espatifaria, e eu não poderia fazer nada. Uma sensação de impotência caiu por cima dos meus ombros e quase me derrubou, porque eu, meu Deus, eu não poderia fazer nada, a não ser recolher os seus pequenos restos do chão e deixa-lo lá, novamente, em cima da mesa, quebrado, ferido. Se fosse gente, sentiria dor.
Literatura arruinou minha vida, pensei.
Doeu. Virei para o lado, como num surto muito repentino de pensamento, um flash, passou rápido, ou devagar, não saberia precisar. Fechei os olhos e vi, dançando bem alí, na minha frente, infinitas cores. Bonitas, talvez, não sei. Fui remetida à um ritual. Pressionei as pálpebras, ficaram mais fortes, mais vivas. Corriam, de um lado para o outro, se exibindo aos meus olhos fechados; admirei o encanto daqueles sinaizinhos por alguns segundos que, depois, me pareceram ter sido horas. Desejei ardentemente que não desaparecessem. Abri os olhos, algumas ainda restavam, embora fossem se escondendo rápido, como se fugissem da luz que de repente rasgou o cenário negro daquela dança estranha, de cores. Pareciam astros, imaginei um céu e fechei de novo os olhos, tentando retomar aquilo que, para mim – no momento, pelo menos -, era quase mágico, mas todas elas haviam sumido. Meus pequenos astros se assustaram com a luz, pensei, e me pareceu cruel visto dessa forma; abri os olhos novamente, eles se foram. Enxerguei a parede, os azulejos muito limpos, a cozinha sempre branca. Empurrei o corpo um pouco p’ra baixo na cadeira, me movimentei para as lados ajeitando confortavelmente a coluna no encosto almofadado, concentrei minha mente no livro e voltei a ler.
“É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar.”
Meus olhos, não sei se contra minha vontade ou não, saltaram para fora daquelas palavras tão vivas, olhei para frente e vi um relógio. Não, não era um relógio, era só uma parte dele. O miolo, eu diria, só a pequena maquininha com algumas engrenagens minúsculas e dois ponteiros, não haviam números, nada, era apenas uma parte de relógio, assim, nu. São essas bondades penosas que me doem, eu refleti, quase como uma conclusão, uma descoberta, uma solução. E era tudo tão simples a minha volta que, por um instante, uma fração de segundo, eu achei que não poderia suportar. Como suportar essa simplicidade tão bonita e tão frágil de tudo que me cerca e me completa assim, simplesmente? Uma ternura estranha, grande, gorda, pesada, pareceu ter caído sobre mim, da mesma forma como havia acontecido outras inúmeras vezes, e eu não sabia da onde vinha; não vinha de lugar nenhum. As palavras, eu disse baixinho como um sopro, as palavras estão vivas, e me assustei; as palavras estão vivas, prossegui, as palavras estão vivas e me corroem por dentro. Não era só alí, naquela cozinha branca e limpa, com aquele cheiro de fim de tarde cinzenta, naquela solidão de casa grande, mas em todos os lugares. Um monstrinho interior que estava cansado, que avançava em cima de cada pedaço de sentimento que me chegasse perto. Quantas pessoas não fizeram disso um motivo para se perder, quase gritei, esperando uma resposta, fosse do livro, da parede, das cores, das palavras, de mim mesma. Uma piedade desumana brotou sem porquê. O relógio estava alí, parado, bem na minha frente, indefeso. Imaginei qualquer pessoa o atacando com força no chão, e ele se quebraria, se espatifaria, e eu não poderia fazer nada. Uma sensação de impotência caiu por cima dos meus ombros e quase me derrubou, porque eu, meu Deus, eu não poderia fazer nada, a não ser recolher os seus pequenos restos do chão e deixa-lo lá, novamente, em cima da mesa, quebrado, ferido. Se fosse gente, sentiria dor.
Literatura arruinou minha vida, pensei.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
II
(...) Pegou seu travesseiro, colocou o pijama e foi para o sofá, mas, por algum motivo, Anne não sentia sono. Ficou deitada, olhando para o teto e fumando enquanto pensava na sutileza do tom da voz daquele rapaz; era um rapaz tão humano (com suas mãos bonitas e brancas), era um rapaz extremamente humano (com seu corpo magro tão cheio de ossos e unhas brutas), era a pessoa mais humana que já tinha visto. Humanos são bichos, repetiu baixinho, e tentou encontrar em John o que o deixava assim bicho, o que fazia dele tão humano. Os suores, os pedidos simples, as fomes, as necessidades, os sonos, o frio, os arrepios, os desejos. Sim, tudo isso cabia dentro dele e era quase estranho perceber tanta coisa dentro de uma vida que ela mal conhecia, mas que apenas por ser uma vida já tinha seu respeito, porque eram iguais. Felizmente ou não era iguais, porque eram gente, animais. E então, ao descobrir que era igual à ele, pensou nos choros, nos risos, nas tristezas, nas alegrias, nas quedas em que ninguém pensava. Se era igual a ela, quantos amores havia tido? Quantas vezes havia desejado a morte, aquele garoto? Uma súbita e estranha curiosidade nova encheu-lhe o peito e quis saber. Amor perdido ainda é amor, amor esquecido ainda é amor, amor triste também é amor. Deve ser um rapaz cheio de amores, refletiu, um em cada lugar aonde vai, tinha cara disso, e ela pensou, com vergonha de si mesma, que ela mesma poderia ser um desses. Não se importava em ser "mais um desses", mas o importante era que fosse um, poderia ser até que só voltasse nas sextas-feiras ou sábados, mas saberia viver aguardando a volta. Gostava de pensar em seus amores passados como ainda amores, e não como ex-amores, e não como peças perdidas do pequeno quebra-cabeça que completava a parte já finalizada da sua vida. Talvez ele fosse igual. Era uma forma de viver, e de nunca estar sozinha. Lembranças são companhias. Esperar por um amor assim era uma forma de viver, e de ser sozinha. Queria apenas as lembranças.
domingo, 21 de setembro de 2008
o amor não é algo completo.
o amor não é algo completo.
se bem que ainda não decidi se não o considero completo, ou se o considero ambicioso demais.
um sentimento não decidido assim não deveria entrar em corações menos decididos ainda, como o meu; sabe, isso causa uma confusão danada. de repente é isso, você está:
feliz
triste
feliz
triste
feliz
triste
e então você sente:
saudade
alegria
saudade
alegria
saudade
alegria
e aí você pensa que:
é bom
é ruim
é bom
é ruim
é bom
é ruim.
penso que quando se ama, mas quando de fato se ama mesmo, nunca se está satisfeito. o amor é um bichinho pretencioso, p'ra não dizer arrogante. sempre haverá do que sentir falta e pelo que chorar, ainda que aparentemente esteja tudo dentro do combinado, tudo nos conformes; mas de alguma forma, em algum lugar, algo te incomoda e diz que pode haver mais, e se abre um buraco dentro de você que te força a procurar mais, e não se acha. é quando se chega ao pelo que sentir falta, pelo que chorar. um impulso vem bem de dentro, de baixo, do fundo, e te empurra com força para um lugar desconhecido (lembre-se: você nunca havia saído da sua própria concha antes), e quando se dá conta você ja está chutando pombas na rua, fumando cigarros de pessoas que você acabou de conhecer, brigando com a família, pensando em casamento, juntando dinheiro para a possível fuga, pensando na hipótese do suicídio caso a pessoa te largue, e etc. e onde é que se chega? bem, a lugar nenhum. é preciso admitir que não se chega a lugar nenhum, e essa é a melhor parte. o final sempre é feliz, mesmo que ocorra o tal suicídio planejado como saída de emergência, porque não se vai a lugar nenhum. um lapso de vida passou por você, e você viveu, mais do que ja havia vivido em toda sua vida, e algumas vezes ele passa, em outras fica por bastante tempo, e em raras vezes te agarra para sempre, mas qualquer que seja a estadia deste raio vital em você, ele não te leva a lugar nenhum. e valeu a pena. todo [tipo de] amor vale a pena. gosto de comparar tal sentimento a um livro, mas um daqueles livros os quais só de ler você pensa ter conhecido metade do mundo, mas aí você tem que almoçar e se da conta de que não saiu do seu próprio quarto. talvez amor seja mesmo essa coisa de conhecer os sete céus e os sete infernos sem sair do lugar, ou ir até os nuvens com os pés no chão.
sim, talvez seja.
acredito que seja.
é.
eu amo. (porque amor, p'ra mim, é verbo instransitivo)
se bem que ainda não decidi se não o considero completo, ou se o considero ambicioso demais.
um sentimento não decidido assim não deveria entrar em corações menos decididos ainda, como o meu; sabe, isso causa uma confusão danada. de repente é isso, você está:
feliz
triste
feliz
triste
feliz
triste
e então você sente:
saudade
alegria
saudade
alegria
saudade
alegria
e aí você pensa que:
é bom
é ruim
é bom
é ruim
é bom
é ruim.
penso que quando se ama, mas quando de fato se ama mesmo, nunca se está satisfeito. o amor é um bichinho pretencioso, p'ra não dizer arrogante. sempre haverá do que sentir falta e pelo que chorar, ainda que aparentemente esteja tudo dentro do combinado, tudo nos conformes; mas de alguma forma, em algum lugar, algo te incomoda e diz que pode haver mais, e se abre um buraco dentro de você que te força a procurar mais, e não se acha. é quando se chega ao pelo que sentir falta, pelo que chorar. um impulso vem bem de dentro, de baixo, do fundo, e te empurra com força para um lugar desconhecido (lembre-se: você nunca havia saído da sua própria concha antes), e quando se dá conta você ja está chutando pombas na rua, fumando cigarros de pessoas que você acabou de conhecer, brigando com a família, pensando em casamento, juntando dinheiro para a possível fuga, pensando na hipótese do suicídio caso a pessoa te largue, e etc. e onde é que se chega? bem, a lugar nenhum. é preciso admitir que não se chega a lugar nenhum, e essa é a melhor parte. o final sempre é feliz, mesmo que ocorra o tal suicídio planejado como saída de emergência, porque não se vai a lugar nenhum. um lapso de vida passou por você, e você viveu, mais do que ja havia vivido em toda sua vida, e algumas vezes ele passa, em outras fica por bastante tempo, e em raras vezes te agarra para sempre, mas qualquer que seja a estadia deste raio vital em você, ele não te leva a lugar nenhum. e valeu a pena. todo [tipo de] amor vale a pena. gosto de comparar tal sentimento a um livro, mas um daqueles livros os quais só de ler você pensa ter conhecido metade do mundo, mas aí você tem que almoçar e se da conta de que não saiu do seu próprio quarto. talvez amor seja mesmo essa coisa de conhecer os sete céus e os sete infernos sem sair do lugar, ou ir até os nuvens com os pés no chão.
sim, talvez seja.
acredito que seja.
é.
eu amo. (porque amor, p'ra mim, é verbo instransitivo)
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
i let you go.
não cassoes
dos meus sambas tristes
das minhas olheiras
das minhas noites vazias de sexta-feira
das minhas mãos frias.
não te esqueças
que foi preciso mais do que alguns quilômetros
que quem me matou foi o mesmo mal que faz mal a ti
que a mim o cansaço não vence (que sou bicho teimoso, desde os astros)
que esqueci minha vida doída.
vamos,
não sejas covarde
mate logo o que anda te corroendo
só prometas que não vais lembrar
de dar uma chance a mim
que já não mereço mais.
ofereças tua boca ao mundo
e não peques mais assim, que coração nenhum é feito de metais.
vá, e não te atrevas a olhar para trás
fico aqui com minha vida
(entre encontros e despedidas)
e meus cigarros
que tu tanto odeias.
vá, e não se remoa com o que perdeu
que de lembranças vivo eu.
finalmente compreendi
saudade nenhuma resiste à perfeição,
não guardarei mágoa, e nem raiva
pelos olhos inchados
pelas noites em que não dormi
pelas horas que passei
enlouquecendo, nascendo, morrendo
pelos quilos que perdi
pelas velas que acendi em vão.
estarei em pé, como sempre estive
não te preocupes comigo
porque agora...
eu te deixo ir.
em paz.
dos meus sambas tristes
das minhas olheiras
das minhas noites vazias de sexta-feira
das minhas mãos frias.
não te esqueças
que foi preciso mais do que alguns quilômetros
que quem me matou foi o mesmo mal que faz mal a ti
que a mim o cansaço não vence (que sou bicho teimoso, desde os astros)
que esqueci minha vida doída.
vamos,
não sejas covarde
mate logo o que anda te corroendo
só prometas que não vais lembrar
de dar uma chance a mim
que já não mereço mais.
ofereças tua boca ao mundo
e não peques mais assim, que coração nenhum é feito de metais.
vá, e não te atrevas a olhar para trás
fico aqui com minha vida
(entre encontros e despedidas)
e meus cigarros
que tu tanto odeias.
vá, e não se remoa com o que perdeu
que de lembranças vivo eu.
finalmente compreendi
saudade nenhuma resiste à perfeição,
não guardarei mágoa, e nem raiva
pelos olhos inchados
pelas noites em que não dormi
pelas horas que passei
enlouquecendo, nascendo, morrendo
pelos quilos que perdi
pelas velas que acendi em vão.
estarei em pé, como sempre estive
não te preocupes comigo
porque agora...
eu te deixo ir.
em paz.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
03/04/2007
essa noite eu me senti
tão sozinha que pensei ter visto Deus;
não há algum Deus além de mim
e eu posso pensar que Deus sou...
e escrevo.
em vários lugares
mas eu tenho medo de espelhos da alma
se dizem que é bonito:
não é elaborado
é solidão
não é poesia
é exato.
tristeza por vaidade
talvez por querer chamar atenção.
tão sozinha que pensei ter visto Deus;
não há algum Deus além de mim
e eu posso pensar que Deus sou...
e escrevo.
em vários lugares
mas eu tenho medo de espelhos da alma
se dizem que é bonito:
não é elaborado
é solidão
não é poesia
é exato.
tristeza por vaidade
talvez por querer chamar atenção.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Samba de orly
pede perdão
pela duração dessa temporada
mas não diga nada
que me viu chorando.
(Tom & Vinicius)
pela duração dessa temporada
mas não diga nada
que me viu chorando.
(Tom & Vinicius)
terça-feira, 2 de setembro de 2008
E se realmente gostarem?
caio f.
se o toque do outro de repente for bom? bom, a palavra é essa. se o outro for bom para você. se te der vontade de viver. se o cheiro do suor do outro também for bom. se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. o pé, no fim do dia. a boca, de manhã cedo. bons, normais, comuns. coisa de gente. cheiros íntimos, secretos. ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. e se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? quando você chega no mais íntimo, no tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. você também tem cheiros. as pessoas têm cheiros, é natural. os animais cheiram uns aos outros. no rabo. o que é que você queria? rendas brancas imaculadas? será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. o amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. se amor for a coragem de ser bicho. se amor for a coragem da própria merda. e depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. o que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. porque então você se ama também.
Assinar:
Postagens (Atom)