quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Demorei muito tempo p'ra reparar em como o azul do céu de uma tarde calma combina com o amarelo recém-pintado das paredes do meu quintal. Hoje o fim de dia está tão bonito que é um crime você não estar aqui para ver comigo, meu amor. Um crime.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

réquiem ao ir-remediável.

Para alguém que muito amou.

Por onde andará o doce?
Em meio a estas curvas tão fechadas que levam o amor à concretização da obra é muito fácil se perder. Deve andar vagando por aí. Ou então foi de encontro ao ponto que corrompeu tantas almas neste mundo, por trás dessa visão comum a uns poucos, que se reconhece apenas depois de ter carregado peso nos ombros o suficiente para entender o quanto doem, que cria esta estranha intimidade entre estranhos. Tenho certeza que está muito, muito além das palavras. Uma doença criada por décadas e décadas; não é mais espantoso que alguns pobres corações tenham nascido com a missão de tomar conta do mundo. Tendo sentido o doce uma única vez, é impossível deixar de procurá-lo, eu sei. O elo de transição que separa a loucura da arte foi sumindo aos poucos, não foram só os cegos que deixaram de ver.
Talvez agora já tenha conhecido o paraíso, o fogo que saia das tuas mãos - assim como o que sai do estômago dos dragões -, há muito já se apagou. Como já dissera uma vez Otto Lara Resende: "não se trata de literatura, mas de bruxaria".

E eu? Bom, eu continuarei buscando o doce por aí.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Anotações sobre uma pequena epifania.

Eu disse: a lua está tão bonita que me dói por dentro. Ele não entendeu.”
Doeu. Virei para o lado, como num surto muito repentino de pensamento, um flash, passou rápido, ou devagar, não saberia precisar. Fechei os olhos e vi, dançando bem alí, na minha frente, infinitas cores. Bonitas, talvez, não sei. Fui remetida à um ritual. Pressionei as pálpebras, ficaram mais fortes, mais vivas. Corriam, de um lado para o outro, se exibindo aos meus olhos fechados; admirei o encanto daqueles sinaizinhos por alguns segundos que, depois, me pareceram ter sido horas. Desejei ardentemente que não desaparecessem. Abri os olhos, algumas ainda restavam, embora fossem se escondendo rápido, como se fugissem da luz que de repente rasgou o cenário negro daquela dança estranha, de cores. Pareciam astros, imaginei um céu e fechei de novo os olhos, tentando retomar aquilo que, para mim – no momento, pelo menos -, era quase mágico, mas todas elas haviam sumido. Meus pequenos astros se assustaram com a luz, pensei, e me pareceu cruel visto dessa forma; abri os olhos novamente, eles se foram. Enxerguei a parede, os azulejos muito limpos, a cozinha sempre branca. Empurrei o corpo um pouco p’ra baixo na cadeira, me movimentei para as lados ajeitando confortavelmente a coluna no encosto almofadado, concentrei minha mente no livro e voltei a ler.

É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar.”
Meus olhos, não sei se contra minha vontade ou não, saltaram para fora daquelas palavras tão vivas, olhei para frente e vi um relógio. Não, não era um relógio, era só uma parte dele. O miolo, eu diria, só a pequena maquininha com algumas engrenagens minúsculas e dois ponteiros, não haviam números, nada, era apenas uma parte de relógio, assim, nu. São essas bondades penosas que me doem, eu refleti, quase como uma conclusão, uma descoberta, uma solução. E era tudo tão simples a minha volta que, por um instante, uma fração de segundo, eu achei que não poderia suportar. Como suportar essa simplicidade tão bonita e tão frágil de tudo que me cerca e me completa assim, simplesmente? Uma ternura estranha, grande, gorda, pesada, pareceu ter caído sobre mim, da mesma forma como havia acontecido outras inúmeras vezes, e eu não sabia da onde vinha; não vinha de lugar nenhum. As palavras, eu disse baixinho como um sopro, as palavras estão vivas, e me assustei; as palavras estão vivas, prossegui, as palavras estão vivas e me corroem por dentro. Não era só alí, naquela cozinha branca e limpa, com aquele cheiro de fim de tarde cinzenta, naquela solidão de casa grande, mas em todos os lugares. Um monstrinho interior que estava cansado, que avançava em cima de cada pedaço de sentimento que me chegasse perto. Quantas pessoas não fizeram disso um motivo para se perder, quase gritei, esperando uma resposta, fosse do livro, da parede, das cores, das palavras, de mim mesma. Uma piedade desumana brotou sem porquê. O relógio estava alí, parado, bem na minha frente, indefeso. Imaginei qualquer pessoa o atacando com força no chão, e ele se quebraria, se espatifaria, e eu não poderia fazer nada. Uma sensação de impotência caiu por cima dos meus ombros e quase me derrubou, porque eu, meu Deus, eu não poderia fazer nada, a não ser recolher os seus pequenos restos do chão e deixa-lo lá, novamente, em cima da mesa, quebrado, ferido. Se fosse gente, sentiria dor.

Literatura arruinou minha vida, pensei.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

II

(...) Pegou seu travesseiro, colocou o pijama e foi para o sofá, mas, por algum motivo, Anne não sentia sono. Ficou deitada, olhando para o teto e fumando enquanto pensava na sutileza do tom da voz daquele rapaz; era um rapaz tão humano (com suas mãos bonitas e brancas), era um rapaz extremamente humano (com seu corpo magro tão cheio de ossos e unhas brutas), era a pessoa mais humana que já tinha visto. Humanos são bichos, repetiu baixinho, e tentou encontrar em John o que o deixava assim bicho, o que fazia dele tão humano. Os suores, os pedidos simples, as fomes, as necessidades, os sonos, o frio, os arrepios, os desejos. Sim, tudo isso cabia dentro dele e era quase estranho perceber tanta coisa dentro de uma vida que ela mal conhecia, mas que apenas por ser uma vida já tinha seu respeito, porque eram iguais. Felizmente ou não era iguais, porque eram gente, animais. E então, ao descobrir que era igual à ele, pensou nos choros, nos risos, nas tristezas, nas alegrias, nas quedas em que ninguém pensava. Se era igual a ela, quantos amores havia tido? Quantas vezes havia desejado a morte, aquele garoto? Uma súbita e estranha curiosidade nova encheu-lhe o peito e quis saber. Amor perdido ainda é amor, amor esquecido ainda é amor, amor triste também é amor. Deve ser um rapaz cheio de amores, refletiu, um em cada lugar aonde vai, tinha cara disso, e ela pensou, com vergonha de si mesma, que ela mesma poderia ser um desses. Não se importava em ser "mais um desses", mas o importante era que fosse um, poderia ser até que só voltasse nas sextas-feiras ou sábados, mas saberia viver aguardando a volta. Gostava de pensar em seus amores passados como ainda amores, e não como ex-amores, e não como peças perdidas do pequeno quebra-cabeça que completava a parte já finalizada da sua vida. Talvez ele fosse igual. Era uma forma de viver, e de nunca estar sozinha. Lembranças são companhias. Esperar por um amor assim era uma forma de viver, e de ser sozinha. Queria apenas as lembranças.

domingo, 21 de setembro de 2008

o amor não é algo completo.

o amor não é algo completo.
se bem que ainda não decidi se não o considero completo, ou se o considero ambicioso demais.

um sentimento não decidido assim não deveria entrar em corações menos decididos ainda, como o meu; sabe, isso causa uma confusão danada. de repente é isso, você está:
feliz
triste
feliz
triste
feliz
triste
e então você sente:
saudade
alegria
saudade
alegria
saudade
alegria
e aí você pensa que:
é bom
é ruim
é bom
é ruim
é bom
é ruim.

penso que quando se ama, mas quando de fato se ama mesmo, nunca se está satisfeito. o amor é um bichinho pretencioso, p'ra não dizer arrogante. sempre haverá do que sentir falta e pelo que chorar, ainda que aparentemente esteja tudo dentro do combinado, tudo nos conformes; mas de alguma forma, em algum lugar, algo te incomoda e diz que pode haver mais, e se abre um buraco dentro de você que te força a procurar mais, e não se acha. é quando se chega ao pelo que sentir falta, pelo que chorar. um impulso vem bem de dentro, de baixo, do fundo, e te empurra com força para um lugar desconhecido (lembre-se: você nunca havia saído da sua própria concha antes), e quando se dá conta você ja está chutando pombas na rua, fumando cigarros de pessoas que você acabou de conhecer, brigando com a família, pensando em casamento, juntando dinheiro para a possível fuga, pensando na hipótese do suicídio caso a pessoa te largue, e etc. e onde é que se chega? bem, a lugar nenhum. é preciso admitir que não se chega a lugar nenhum, e essa é a melhor parte. o final sempre é feliz, mesmo que ocorra o tal suicídio planejado como saída de emergência, porque não se vai a lugar nenhum. um lapso de vida passou por você, e você viveu, mais do que ja havia vivido em toda sua vida, e algumas vezes ele passa, em outras fica por bastante tempo, e em raras vezes te agarra para sempre, mas qualquer que seja a estadia deste raio vital em você, ele não te leva a lugar nenhum. e valeu a pena. todo [tipo de] amor vale a pena. gosto de comparar tal sentimento a um livro, mas um daqueles livros os quais só de ler você pensa ter conhecido metade do mundo, mas aí você tem que almoçar e se da conta de que não saiu do seu próprio quarto. talvez amor seja mesmo essa coisa de conhecer os sete céus e os sete infernos sem sair do lugar, ou ir até os nuvens com os pés no chão.
sim, talvez seja.
acredito que seja.
é.

eu amo. (porque amor, p'ra mim, é verbo instransitivo)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

i let you go.

não cassoes
dos meus sambas tristes
das minhas olheiras
das minhas noites vazias de sexta-feira
das minhas mãos frias.
não te esqueças
que foi preciso mais do que alguns quilômetros
que quem me matou foi o mesmo mal que faz mal a ti
que a mim o cansaço não vence (que sou bicho teimoso, desde os astros)
que esqueci minha vida doída.
vamos,
não sejas covarde
mate logo o que anda te corroendo
só prometas que não vais lembrar
de dar uma chance a mim
que já não mereço mais.
ofereças tua boca ao mundo
e não peques mais assim, que coração nenhum é feito de metais.
vá, e não te atrevas a olhar para trás
fico aqui com minha vida
(entre encontros e despedidas)
e meus cigarros
que tu tanto odeias.
vá, e não se remoa com o que perdeu
que de lembranças vivo eu.
finalmente compreendi
saudade nenhuma resiste à perfeição,
não guardarei mágoa, e nem raiva
pelos olhos inchados
pelas noites em que não dormi
pelas horas que passei
enlouquecendo, nascendo, morrendo
pelos quilos que perdi
pelas velas que acendi em vão.
estarei em pé, como sempre estive
não te preocupes comigo
porque agora...
eu te deixo ir.
em paz.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

03/04/2007

essa noite eu me senti
tão sozinha que pensei ter visto Deus;
não há algum Deus além de mim
e eu posso pensar que Deus sou...
e escrevo.
em vários lugares
mas eu tenho medo de espelhos da alma
se dizem que é bonito:
não é elaborado
é solidão
não é poesia
é exato.
tristeza por vaidade
talvez por querer chamar atenção.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Samba de orly

pede perdão
pela duração dessa temporada
mas não diga nada
que me viu chorando.

(Tom & Vinicius)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

E se realmente gostarem?

caio f.

se o toque do outro de repente for bom? bom, a palavra é essa. se o outro for bom para você. se te der vontade de viver. se o cheiro do suor do outro também for bom. se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. o pé, no fim do dia. a boca, de manhã cedo. bons, normais, comuns. coisa de gente. cheiros íntimos, secretos. ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. e se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? quando você chega no mais íntimo, no tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. você também tem cheiros. as pessoas têm cheiros, é natural. os animais cheiram uns aos outros. no rabo. o que é que você queria? rendas brancas imaculadas? será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. o amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. se amor for a coragem de ser bicho. se amor for a coragem da própria merda. e depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. o que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. porque então você se ama também.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

ato ∞

a vida me pregou outra peça.
parece-me agora que começa outro ato da minha eterna encenação e assim sigo fazendo da minha vida um cenário da minha tristeza.


"as possibilidade de felicidade são egoístas, meu amor."

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Para um outro alguém quê.

às vezes era difícil imaginar o que ele estaria pensando, um garoto calado e, de repente, um olhar fixo e a tentativa de reter todos os sons e imagens que pudesse na mente, por saber de sua memória ruim, para lembrar mais tarde, quando enfim tivesse ido embora. e era todo o tempo essa dúvida em mim, que parecia impossível e ao mesmo tempo tão fácil de ser respondida quando nos encaixávamos em beijos demorados ou nos misturávamos em alguma cama, e então eu não sabia qual braço era o meu e qual era o dele, pedaços de mim perdidos em pedaços dele e eu sabia o que ele estaria pensando naquela hora; da mesma forma que ele devia (tenho certeza) saber o que se passava em mim, e eu só conseguia pensar em como, meu deus, como e da onde havia saído aquela coisa tão bonita que surgiu tão de repente. sentíamos muito sono, principalmente ele, por não dormir há dias, mas eu não me importava - e o som do coração dele batendo devagar era como música para dormir.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

eu já parei de roer as unhas duas outras vezes.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

acerca de viver:

caio f.

a vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. sim, existir é incompreensível e excitante. às vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem.

segunda-feira, 31 de março de 2008

a taste of.

os únicos momentos em que eu deixo de sentir o gosto da tua boca é quando eu sinto o gosto dos cigarros na minha.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Dialética

é claro que a vida é boa
e a alegria, a única indizível emoção
é claro que te acho linda
em ti bendigo o amor das coisas simples
é claro que te amo
e tenho tudo para ser feliz

mas acontece que eu sou triste...

(Vinicius de Moraes)

sábado, 1 de março de 2008

urgência de ti, meu amor.

caio f.

tenho urgência de ti, meu amor. para me salvar da lama movediça de mim mesmo. para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Enquanto ele não chegar

quantos dias eu ainda vou esperar
e quantas estrelas eu vou tentar contar?
e quantas luzes na cidade vão se apagar
enquanto ele não chegar?
eu tenho andado tão sozinho
que eu nem sei em que acreditar
e a paz que busco agora
nem a dor vai me negar.

quantas besteiras eu ainda vou pensar
e quantos sonhos no tempo vão se esfarelar?
quantas vezes eu vou me criticar
enquanto ele não chegar?

(Frejat)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Refrão de um bolero

eu pago meus pecados
por ter acreditado que só se vive uma vez
pensei que era liberdade
mas, na verdade, era só solidão.

e eu que falei:
"nem pensar"
agora me arrependo
roendo as unhas,
frágeis testemunhas
de um crime sem perdão.

se eu soubesse antes o que sei agora
erraria tudo exatamente igual...

(Humberto G.)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O desassossego.

Fernando Pessoa

tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. a minha alegria é tão dolorosa quanto a minha dor.

Que então me respira e eu te respiro...

Clarice L.

eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti. só há uma coisa que me separa de você: o ar entre nós dois.

às vezes para ultrapassar esse quase cruel afastamento, eu respiro na tua boca que então me respira e eu te respiro.

mas só por um único instante, senão sufocaríamo-nos: seria o castigo que se recebe quando um tenta ser o outro.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

limite branco.

caio f.

então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

no matter what










i'm by your side
no matter how far.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

você e a noite escura

às vezes eu me sinto um fantasma, arrancando flores no jardim à meia-noite. penso em você e sigo despedaçando.
pétalas ao vento na tempestade.
pétalas vermelhas.
tô com saudade de você.
de você.

e as ondas vêm me cobrir na noite escura.

às vezes eu não sei se é a noite, ou se é a vontade de te ter agora.
agora.
eu penso em você e sinto a tempestade desabar por dentro e por fora.
eu penso em você e sinto toda a vontade do mundo, de te ter agora, agora.

você.
agora.

(Lobão)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Em lugar de uma carta.

fumo de tabaco rói o ar.
o quarto —
um capítulo do inferno de krutchônikh.
recorda —
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
hoje te sentas,
no coração — aço.
um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
no teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua .
transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
de qualquer forma
o meu amor
— duro fardo por certo —
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
e não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos — rodopiante carnaval —
dispersarão as folhas dos meus livros...
acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

1916

domingo, 27 de janeiro de 2008

Escrevo em primeira pessoa

escrevo em primeira pessoa. nunca gostei de contar casos alheios ou escrever sobre qualquer outra coisa que não fosse meu próprio umbigo; sempre tive problemas com seres humanos e não pretendo fazer disso mais um pretexto para fugir de toda e qualquer coisa que me aflige. acordo todos os dias com a minha tristeza e pretendo ficar com ela até o que em que quiser ir embora sozinha. sempre deixo escapar um sorriso pensando no que acontecerá ao longo do dia enquanto faço meu primeiro xixi, não sei se porque não espero nada ou porque espero demais. sou tão pedante que consigo achar que no dia seguinte tudo poderá ser diferente, enquanto bato com a cabeça no muro da minha ignorância todos os dias, todas as horas.
desculpe-me se eu não consigo incluir você nestes planos (planos?), eu não consigo ao menos sentir falta de mim mesma. eu realmente me nego a dar a você menos do que você merece. não sei se devo me desculpar por isso também, ou se devo apenas assistir ao que acontecerá depois de você descobrir que eu não sou alguém que pode te fazer feliz. estive assistindo a conseqüências durante toda a minha vida, tanto as que eu sofri quanto as que eu causei em outras pessoas, não me importo. “tell me why you cry and why you lie to me”… não entendo o que estas palavras querem dizer. por favor, me perdoe; mas hoje eu realmente não entendo. não venho entendendo muita coisa de uns tempos pra cá, na verdade mal tenho consigo me sentir culpada.
nunca li kafka, não entendo nada de ciência, mal consigo passar de ano, não sei fazer os cálculos mais imbecis, mas à fora tudo isso aprendi a pensar, mesmo que isso não valha de nada. pensar tem sido a única atividade que eu consigo praticar, ainda que mal. estou travada, me sinto travada. chains of love. não vou dizer que desta vez são coisas do tempo, o tempo não tem culpa, ninguém tem culpa. o tempo não tem nada a ver com a minha vida, e muito menos eu com ele e, pensando bem, foda-se o tempo.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

sábado, 19 de janeiro de 2008

Harriet

caio f.

sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu deus como você me doía vezenquando. eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada, um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando, meu deus mas como você me dói vezenquando.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Apenas mais uma de amor

eu gosto tanto de você que até prefiro esconder, deixo assim ficar subentendido como uma idéia que existe na cabeça e não tem a menor obrigação de acontecer.
eu acho tão bonito isso de ser abstrato, baby. a beleza é mesmo tão fulgaz.

é uma idéia que existe na cabeça
e não tem a menor pretensão de acontecer.

(Lulu S.)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

You've got to hide your love

here i stand, head in hand

turn my face to the wall

if he's gone i can't go on

feeling two foot small.

everywhere people stare

each and everyday

i can see them laugh at me

and i hear them say;

hey, you've got to hide your love away

hey, you've got to hide your love away

how can i even try?

i can never win.

(John Lennon)