sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

meu partido é um coração partido

.
teu sex and drugs não tem nenhum rock'n'roll, minha querida.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


confortai-me com frutos e com flores, que eu desfaleço de amor

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

oh my lover

don't you know it's alright?
you can love her
you can love me at the same time

(PJ Harvey)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

a day in the life

É você fugir do amor pra ele dizer que é teimoso o suficiente pra ir te buscar de metrô no trabalho às 18h da tarde no meio do centro de São Paulo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

M. de Assis

O tempo caleja a sensibilidade.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

completamente blue

você chega e sai e some
e eu te amo assim tão só

(Cazuza)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pálpebras de neblina

Caio F.

Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia Tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás...

Eu te escolhi, meu amor.
E a única coisa que você fez foi abrir o gás pra mim.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

minha mãe e minha filha... minha irmã, minha menina

Acontece que no momento em que penso em você, o telefone toca. Sem razão alguma uma nuvem de desespero estaciona sobre a minha cabeça porque penso que estás em perigo e é tiro e queda. Ouvimos a mesma música coincidentemente no mesmo instante (a mesma que ouvimos repetidamente o dia todo, eu cá e tu lá) e somos acomedidas pelo mesmo mal todas as noites. Então me diz, meu amor, me diz se estamos de verdade vivendo a mesma vida, porque até as roupas tuas que ficaram aqui em casa eu estou usando. Me diz qual ilusão foi maior, a de estar contigo ou a de pensar que seria fácil para mim te deixar para trás; a culpa que não me larga, que não me deixa fechar os olhos, a faca de dois legumes que é a minha vida - e a cada maço que abro ouço tua voz pedindo baixinho que te dê um cigarro, que o teu acabou, que sabe-como-é, e sei que é mentira porque noite passada te dei um outro maço inteirinho de presente e você nem abriu. Em cada canto dessa cidade, meu bem, em cada estacionamento de shopping, supermercado, rua, meio-fio, bar, metrô, favela, vejo você. Dividi contigo todos os lugares que mais amo, e estive também contigo em todos aqueles que mais odiei, e até onde nunca te levei comigo vejo tua sombra imaginando o que você faria se pudesse ter estado ali. A verdade é que não posso deixar de dividir cada esquina deste lugar com a tua presença enquanto viver aqui, porque esta cidade é tua, e não minha. Esta cidade e tudo mais o que eu te dei e não posso mais tomar de volta. Sinto sua falta todos os dias da minha vida, minha querida... da tua mão leve, dos teus lábios fininhos e rosas, do teu cheiro de flor, do teu colo macio, da tua doçura de menina - ainda que escondida por debaixo de cinco capas -, da tua voz doce, da tua risada tímida, dos teus olhos pretos como o céu durante noites em que não se vê a lua, da tua pele branca como neve; de tudo que ninguém nunca reparou em você e que vejo com tanta facilidade que me parece um absurdo sem tamanho dizerem que nada disso existe. Como não vêem, por Deus, que você é a mulher mais linda de todo mundo?
Não demore, meu bem, que não posso esperar para sempre. Não demore muito pra entender de uma vez por todas que we belong together.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

mas sobretudo, apesar do saco-cheio

Paulo Scott

duas e meia, lembrando de conversa que tive com casal no momento em que saia da praça a caminho do hotel (isso foi ontem por volta das nove e meia), os dois super jovens e acadêmicos e empolgados falando de poesia e do quanto maravilhosa deve ser a vida de um poeta, lá pelas tantas eu disse: os leitores é que salvam a poesia, a poesia vive no silêncio e nas formas de desespero, poetas são caras inúteis que falam uns dos outros pelas costas, só acredito nos poetas gays e nos poetas que se mataram ou morreram fuzilados, o resto sobra nas categorias impostor e auto-ajuda, exatamente como eu, eles ficaram rindo sem graça, pedi desculpa e confessei que a poesia na minha vida não servia pra nada

(ithaca road, a lindeza: http://pauloscott.wordpress.com/)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

(...) all i know is that you're the nicest thing i've ever seen

às vezes que acho que nunca existiu e nem nunca vai existir nada no mundo que seja mais lindo que você. nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Satori in São Paulo

Abracei o travesseiro, enrolei as pernas contra o cobertor e dormi sem enxergar a ausência de você ao meu lado. Quando acordei, era a sua blusa que eu vestia, o seu cigarro que ardia meus pulmões e o seu bilhete a última coisa que li antes do porre apagar todos os meus sentidos. Não posso evitar viver assim cercada de coisas tuas esquecidas por aqui porque toda as vezes que penso em me livrar de uma vez por todas da sua presença, é como se sentisse outra vez a dor que senti quando te arrancaram de mim – como se me arrancassem a pele a sangue frio. Mañana sin ti, sol frio, café velho, moscas en la casa, ressaca. Não a ressaca da noite anterior, meu bem, mas a ressaca que vive em mim; a ressaca deste tempo que vivi contigo, da embriaguez do que sempre me pareceu amor, e que de repente se foi e se desfez como que da noite pro dia, e agora é só a tristeza, a lembrança, a saudade. A dor. A-maior-dor-do-mundo, com calma, para ser lido com o peso do cansaço destes meus olhos que já não agüentam mais chorar, que já não agüentam mais ficar abertos dias e noites, que já não agüentam mais te caçar por aí em todas as esquinas por onde passo sem encontrar nem restos de você.

I don't know if life is greater than death, but love was more than either. Ou pelo menos é o que diz uma história bonita, mas me explica, minha querida, me explica... o que acontece quando um amor é menor do que a própria vida e acaba enquanto a morte vem rondando traiçoeira maior do que qualquer coisa que possa ter vindo antes?

Não acontece nada.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

estoy enloqueciendome


e eu sei por que você se foi...


mas não consigo entender.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

If she's gone I can't go on

Ter uma vida longe de você é como ter o céu tão baixo sobre mim que cada vez que tento me levantar, bato com a cabeça nele e caio sentada outra vez, como se não pudesse nunca sair do mesmo lugar. Ainda que eu consiga cerrar todas as correntes, desatar todos os nós, tirar de meus pés todos estes pesos que não me permitem movimento algum, o obstáculo de maior distância entre nós é você simplesmente não precisar mais da minha presença, da minha ajuda, do meu amor. Você já me esqueceu, e eu não vejo um jeito de fazer você lembrar de todas as vezes que ouvi você dizer que eu era tudo... Chorei feito criança, se soubesses. Escrevi um milhão de nomes teus em folhas brancas, gritei o dobro de vezes e liguei três dias seguidos; me perdoa. Me perdoa se não sei te deixar, se não consigo te ver indo embora, se não posso me desprender de um passado nem tão distante assim. Me perdoa, minha querida, se insisto sem esperanças neste tormento de não te deixar em paz.


You know I gave you the world
You had me in the palm of your hand
So, why the love went away?
I just can't seem to understand
Thought it was me and you, baby
Me and you until the end
But I guess I was wrong...

domingo, 3 de outubro de 2010

etílicamente sentimental

Quantas garrafas existem entre o que eu deveria fazer pra ser feliz e tudo que eu faço pra não ser?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

confusion in her eyes that says it all

she's lost control
and she's clinging to the nearest passer by
she's lost control
she's lost control again
she's lost control
she's lost control again
she's lost control
i've lost control
she's lost control again
she's lost control
she's lost control again
she's lost control

i could live a little better with the myths and the lies
when the darkness broke in, i just broke down and cried
i could live a little in a wider line
when the change is gone, when the urge is gone
to lose control when here we come.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

this is not a love song

- Tua felicidade não tá no Rio de Janeiro.
- Por quê?
- Porque tua felicidade não tá em lugar nenhum.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Je l'aime toujours quand vous parlez français

come-se pouco,
ama-se muito
e bebe-se mais.


(Pardonnez-moi de vous voler, vous manquez. Et je ne parle pas français.)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

it's breaking my heart

to watch you run around
'cause i know that you're living a lie
but that's ok, baby
'cause in time
you will find

(Justin T.)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Galos, noites e quintais

Eu te amo, me nina, me abraça, me beija, dorme aqui, fode comigo, me faz um café, não solta minha mão, espera essa poeira toda baixar. Agora vai embora, já pode ir, já é dia, o café esfriou, é a hora da minha saudade, volta amanhã, semana que vem, próximo mês, diz que não volta mais, briga comigo, grita que vai me largar, me chama de vadia, puta, vagabunda. É o nosso jeito, minha querida. Você é a única que fica pra depois das 3h, você é a única que fica pra depois que as bebidas acabam, você é a única que fica pra assistir minha insônia, os olhos acesos no escuro... você é a única que fica. Você é a única. Você.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

that's how we roll

b r un a (C) diz:
*sei lá, to pensando se adiciono ele ou não
*que cê acha?
Ísis (C) diz:
*adiciona logo, mano
*a merda de acreditar em amor é essa
*a gente nunca pára de procurar
*inferno.

domingo, 22 de agosto de 2010

Sua puta

Tati B.

Eu pergunto: por que é que vocês todos estão tão cinza? Por que é que vocês não me ajudam? Por que é que todos vocês também ficam tão tristes quando ele vai embora? Por que é que todos vocês também morrem quando ele vai embora? Por que é que todos vocês também amam ele?

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

acho que gosto de São Paulo

acho
que
te
amava

agora
acho
que
te
odeio
(são tudo pequenas coisas, e tudo deve passar)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

1º verão de 2009

"(...) Toda a impotência, toda a distância, toda saudade, todo bem-querer perdido, toda ausência que me priva de você, isto tudo... isto tudo é meu. Não é por ser simples que é fácil, sweet, não passa nem perto de ser. Fácil é usar chinelos com pregos nas solas, fácil é receber ao invés das rosas todos os espinhos, fácil é ficar sem fumar, tomar café ou comer chocolate, fácil é viver trancafiada dentro de um quarto, fácil é ter a pele rasgada, fácil é quebrar uma perna, fácil é usar roupas feitas com lixas. Fácil é tudo que não tem teu nome, porque, meu amor,

difícil é viver sem você."

terça-feira, 10 de agosto de 2010

like an aryan

Poucas coisas me fazem sentir mais pena de mim mesma do que você;


mas acontece, meu amor, que quem não sabe a hora de chegar... sabe menos ainda qual a hora de partir.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

_

cerca de ferro fundido e a cama feita de pinho
como é doce não te ter mais e de ti sentir ciúmes
forraram a minha cama com súplicas, soluços.
vai, procura teu caminho...
onde queiras, e que Deus te guie
já não te ferem os ouvidos palvras descontroladas.
já ninguém espera a vela queimar até o dia seguinte.
finalmente conseguimos paz e dias incoentes
tu choras - eu não valho uma de suas lágrimas.

(Anna Akhmátova)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

déjà vu

Não espero de ti mais do que voz. Tua omissão já me feriu demais, como não vês? Te procurei primeiro, antes de saber de todas as tuas outras coisas bonitas, porque via nas tuas palavras uma razão que procurei a vida toda, uma firmeza que nunca consegui alcançar. Te procurei a princípio porque havia em tudo que dizias o que sempre me faltou. Quando tua fonte secou comigo, meu amor, me perdi. Não sei mais onde procurar e nem em quem achar o que, até hoje, só tu me deste. Ainda que sejam todas aquelas mentiras sinceras que sempre me interessaram tanto, diz. Ainda que seja para repetir tudo e cometer os mesmos erros honestos que já partiram tanto o meu quanto o seu coração, diz. Diz, porque preciso ouvir; preciso saber, preciso sentir. Preciso. Não brinco quando digo que preciso de ti como criança precisa de cobertor, como preto precisa de branco. Se foi mais importante para mim do que para ti, confessa. Eu jamais te recriminaria – não precisa reafirmar que só fizeste por si mesmo. Mas eu já não alcanço mais o que dizem estes teus silêncios, estas tuas meias frases, estes teus gestos que eu não vejo; eu não me satisfaço mais apenas com a tua respiração do outro lado da linha, e deverias saber.
Eu chorei, meu querido, eu chorei porque sempre houve algo a ser terminado, alguma coisa beliscava pedindo para ser inteira e eu não podia dar. Nunca pude. Um par não se completa se depois do um não vier o dois. Um laço não é um laço se não existirem duas pontas e eu me gastei demais tentando dar nó em fita de uma ponta só. Tua falta de coragem foi meu impasse, teu impasse, nosso impasse, porque, meu amor, se covardia não fosse algo tão daninho para nós eu teria, certamente, me casado contigo. Tenho tanta certeza disso hoje quanto tenho de que qualquer coisa prematura demais entre eu e tu foi partida com tanta força que nunca mais vai se recompor.
Muito tempo. Liga outra hora. Amanhã, depois. Se vê, a gente se vê. Tchau, outro. Simples como alguma coisa que morria antes mesmo de chegar a nascer, uma mancha do passado que se criou já superada. Uma formalidade que limita de maneira imoral tanta coisa que necessitava ser dita e se calou. Calei. Calaste. Calamos. Brincando assim no escuro de um jogo qualquer sobre orgulho e ego ferido eu não posso, eu não posso, eu não posso, meu amor, ser a primeira a falar. Não cabe a mim quebrar este vazio tão pesado. Não posso, assim como também não conseguiria, porque este espaço sem cor que há agora é tão duro que minhas fracas forças não seriam capazes, mas tu não reages. O feitiço virou contra o feiticeiro e a mesma razão que tanto me encantou há tempos atrás é agora a minha desgraça – é essa tua maldita mania de estar tão acostumado a estar sempre certo que não desata tuas mordaças. Me admiras pela minha falta de orgulho quando se trata de amor, mas toda admiração esconde à sete chaves um pouquinho de frustração, recalque, incapacidade. Admiras tanto que eu não tenha vergonha de ajoelhar em praça pública te pedindo para voltar só porque não és capaz de tanto. Só porque não foste talhado para sucumbir a todas essas armações, mas te faltaram olhos para enxergar que o que corroeu teu coração foi a fraqueza, e não a incapacidade. Os mesmos olhos que faltaram também a mim para enxergar que todo o amor que eu senti quando te olhei pela primeira vez não poderia ser dividido; era só meu. Se eu te explicasse tudo isso sem metáforas ou cordialidades, entenderias? Preciso te abraçar para dizer que te amo ou odeio e não tenho mais muito tempo de espera. Ontem mesmo chorei de saudade.
Se daqui alguns anos qualquer um desses amores que vem e voltam me perguntar se tudo que escrevo agora ainda vive, tenho uma certeza insuportável de que direi que sim – que sempre viverá. Porque ainda lacrimejo ao lembrar do teu cheiro e porque, acima de tudo, ainda lamento que a vida tenha sido tão indiferente a mim, sentindo o gosto de amargo na língua todos os dias da minha vida, ainda que se passem mil anos, ainda que se passem mil vidas, ainda que se passem mil amores, ainda que se supere mil traumas. Ainda que qualquer coisa. Não esqueço nem os menos doloridos, meu querido, quem dirá uma coisa como essa que ainda me aperta e sufoca tanto. Fiz o que pude, pedi o que podia ser pedido e rezei o quanto a minha pequena fé em nada permitia. I give up, darling.
Por que não quiseste? Por que só em mim ardeu tanto a separação? Por que só na minha mente a imagem da partida se faz tão nítida todas as vezes em que acordo e vou dormir? Por que meu sentimento por ti não esmorece mediante situação nenhuma? Meu coração se partiu em tantos pedaços que ainda que quisesses voltar agora, pediria que esperasse, porque não há espaço em mim para mais nenhuma indecisão.

Tu que sempre sabe das coisas, diz-me.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

a cem por hora, meu amor

(...)
e no escritório em que eu trabalho
e fico rico, quanto mais eu multiplico
diminui o meu amor

em cada luz de mercúrio
vejo a luz do teu olhar
passas praças, viadutos
nem te lembras de voltar, de voltar, de voltar...

no Corcovado, quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana o mar sou eu
como é perversa a juventude do meu coração
que só entende o que é cruel, o que é paixão

e as paralelas dos pneus n'água das ruas
são duas estradas nuas
em que foges do que é teu

no apartamento, oitavo andar
abro a vidraça e grito, grito quando o carro passa
teu infinito sou eu, sou eu, sou eu, sou eu...

(Paralelas - Belchior)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

through all these sleepless nights

- Você tirou meu sono. Ninguém tira meu sono.
- Já o meu...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

from me to you(r pain)

coloca tuas mãos em mim
e me abraça com todos os teus pedaços
porque tudo que existe em ti é meu
e arranca de mim com força toda essa certeza
de que tanto amor vai me apodrecer e depois esquece
de tudo o que carrego nas costas
me queimando a boca com a tua vontade
enquanto sou tua sou tua sou tua
apesar do cansaço
apesar das feridas
e seca deste rosto essas lágrimas que vêm de longe
sujas de tanta poeira de tanta estrada
e de tanto desamor
pra desaguar sobre mim somente a doçura
e a querência destas mãos leves
que me deixam com olhos acesos de bicho
todas as noites porque espero espero espero
sem cessar um só instante e sigo me desfazendo a cada passo
embrigada de toda esta existência forçada
que me acorrenta a toda essa infelicidade que já não me pertence mais
e afasta de uma vez por todas de mim toda essa eternidade de solidão

quinta-feira, 10 de junho de 2010

_

there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late
and there's nothing worse
than
too late.

(Charles Bukowski)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

desata os nós dessa loucura

deixa do lado de fora esse manto
e esquece tuas feridas na calçada
mora em mim que eu deixo as portas sempre abertas,

vem.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

oh, pedaço de mim

(...) lava os olhos meus
que a saudade é o pior castigo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

a versão nova de uma velha história

Te sinto chegar como sinto o cheiro doce de café emanar das paredes da minha casa assim que chego cansada em um finalzinho de tarde qualquer, com as mãos frias que se aquecem quando seguram firme a caneca e que também me esquenta por dentro quando me desce garganta abaixo. Vens de longe com uns olhos pequeninos que me dizem que carregar o peso de uma estrada não é cansativo quando a única coisa que queres é sentir a noite cair enquanto se enrodilha em meu corpo como bicho abandonado que procura abrigo. Trazes para mim de presente o ar de uma cidade que mora em mim e que cabe dentro da palma da minha mão, inalcançável que é, e me pertence dolorosamente sem que ninguém possa remediar minha saudade. Escolho minuciosamente o bom que me sobrou da vida para me despir de toda tristeza que me veste inteira e te dar beijos leves, porque já não posso mais oferecer do meu amor a dor dos laços desfeitos em nós, das conclusões vazias, dos pensamentos afogados, do fracasso, das mágoas acumuladas em mim como velharias esquecidas. Sobre estar só, eu sei, mas procuro incessantemente uma fuga e sei também que ela existe porque a procura também tu, e já guio meu rumo nos teus passos, comendo a poeira dos teus sapatos e engolindo como vinho todas as verdades saem da tua boca, me embriagando cada vez mais da tua inflação de sentimentos e vendo transbordar esta ausência quase palpável para todo canto de mim, que não existe mais um só pedaço do meu ser que não tenha teu nome escrito. Grito por dentro a todo instante que minha vontade é correr, sem saber exatamente pra onde, te acompanhando para onde fores porque espaço nenhum é mais meu do que aquele onde você simplesmente existe, e me basta. Não sou de grandes aspirações, bem sabes, e só exijo do mundo aquilo que me pode ser dado, mas tenho uma certeza imperdoável de que te encontrar e te guardar dentro de mim é a única coisa maior que eu que mereço e que posso agarrar sem medo. Enxergo uma distância absurda bem diante do meu nariz e teimo em te sentir o tempo todo ao meu lado, como uma presença colada em mim, que faz parte de mim, que sou eu; e que sou eu porque és meu reflexo e em nenhum minuto cessas de nascer em mim e para mim, e já fica difícil saber quem sou sem tua referência. Te amo dentro de um tempo que não passa, nunca passou – minha idade nunca foi mais que uma grande estagnação e só tenho agora, enquanto plano sobre um mundo grande demais para o meu tamanho, um único desejo: fica comigo.

domingo, 30 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

vem fazer a festa

no pátio lá de casa
diga que eu não presto,
mas diga mesmo assim -
me jogue na parede,
me leve na garupa
que eu não tenho culpa de ser assim...

(Péri)

terça-feira, 18 de maio de 2010

te guardar no meu ninho

morar dentro de você.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

ana-crônico

Queimei ontem nossas memórias.
Junto com todos os planos que fizemos juntas e o resto deles que mentalizei sozinha, transformando assim em cinza um passado incompleto e um futuro já deficiente ainda no ventre de nossas vidas. Ninguém, minha querida, – leia bem – ninguém sabe quanta dor senti para parir essa derrota pesada que fez com que eu me enxergasse outra vez dentro desta esfera solitária de frustração, total impotência depois de tanto esforço para manter cada coisa em seu lugar, para te manter em seu lugar, para me manter por você mesmo que este não seja meu lugar, para existir para nós algum lugar. Te conheci tão bem, nem imagina! Desde o primeiro momento, acredite, nunca fui ingênua, sempre soube com muita lucidez o que haveria de encontrar, meu bem, mas o amor não só me grita pelo nome como me puxa pelos cabelos e me beija na boca – e então de que forma eu preencheria o buraco em meu coração se ignorasse que me apaixonei pela tua voz no segundo em que a ouvi? Tenho os ouvidos abertos e olhos acesos, meu amor, sentidos a flor da pele para o mundo e recebo de peito aberto toda esta inflação incontrolável de sentimentos... porém calo. Sempre soube, tu e eu. A verdade é que o que me deixa cicatrizes é essa seqüência ininterrupta de mágoas afiadas como faca que não me deixa respirar; não existe tempo para mim. E sem trégua a vida me estapeia com uma mão e me afaga com a outra, de porre em porre vai me desmentindo, e me desgasto lentamente, cigarro a cigarro, bem diante dos teus olhos.
Pequei, eu sei. Pequei e sou réu confesso, e como pecadora peço perdão a um céu onde pra mim só existe amor e consigo segurar o perdão em minhas mãos. Mas não posso engolir teu sofrimento, minha querida, quem me dera pudesse...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

das minhas tripas, teu coração

não fujo desse desespero que atiras em cima de mim como se fosse eu a única culpada de toda essa sua angústia, só estou desviando meu pobre equilíbrio destes tiros que disparas pra cima de mim, tão sem querer quanto te sentes só, toda vez que me dizes pedaços destas palavras doídas... porque, de repente, naquele momento, dentro dos teus olhos e através da fumaça, o mundo inteiro me pareceu triste para sempre.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Presente

o meu amor tem um jeito manso que é só seu
e que me deixa louca quando me beija a boca,
a minha pele toda fica arrepiada
e me beija com calma e fundo
até minh'alma se sentir beijada...

o meu amor tem um jeito manso que é só seu
que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
com tantos segredos lindos e indecentes,
depois brinca comigo, ri do meu umbigo
e me crava os dentes

eu sou sua menina, viu? e ele é o meu rapaz
meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

o meu amor tem um jeito manso que é só seu
que me deixa maluca, quando me roça a nuca
e quase me machuca com a barba mal feita,
e de pousar as coxas entre as minhas coxas
quando ele se deita

o meu amor tem um jeito manso que é só seu
de me fazer rodeios, de me beijar os seios
me beijar o ventre e me deixar em brasa,
desfruta do meu corpo como se o meu corpo
fosse a sua casa!

eu sou sua menina, viu? e ele é o meu rapaz
meu corpo é testemunha do bem que ele me faz...

(Chico Buarque)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

a vida é doce?

e de repente o telefone toca
e é você do outro lado me ligando,
devolvendo minha insônia,
minhas bobagens.

(Lobão)

terça-feira, 30 de março de 2010

The Dreamers

my own Isabelle and Theo

domingo, 28 de março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

sozinha

às vezes no silêncio da noite
eu fico imaginando nós dois,
eu fico ali, sonhando acordado
juntando o antes, o agora e o depois...

por que você me deixa tão solto?
por que você não cola em mim?
tô me sentindo muito sozinho

não sou nem quero ser
o seu dono
é que um carinho às vezes
cai bem...
eu tenho os meus desejos e planos
secretos!
só conto prá você
mais ninguém

por que você me esquece e some?
e se eu me interessar por alguém?
e se ela de repente me ganha?

quando a gente gosta
é claro que a gente cuida,
fala que me ama
só que é da boca prá fora
ou você me engana
ou não está madura

onde está você agora?

(Peninha)

sábado, 20 de março de 2010

bluffin' with my muffin

- sabe quando um amontoado desse tamanho de amor vira um sentimento maldoso de tão grande?
- isso depende do que você faz com o amor, ele é como massinha de modelar e você o deixa como quiser.
- mas eu amo tanto que transborda, explode e respinga amor em todo mundo...
- Bruna, você é uma vagabunda, isso sim.

segunda-feira, 8 de março de 2010

nós, os Incondicionais

Não posso mais me culpar pela sua incapacidade de ler meus silêncios. Não posso mais, meu querido, carregar esta cruz que é tão maior do que o que meu corpo frágil pode carregar. De uma vez por todas, não tenho mais minha própria permissão para embaçar minha visão com a fumaça de um fogo que já não mais existe há tempo demais para que eu ainda ache que é possível vê-lo aceso outra vez. Não desisto por conformismo, mas porque a solidão me sugou até não restar nem o vácuo, o completo vazio. Vão-se as chuvas, mas ficam-se as poças, meu amor, onde piso todos os dias com os pés cansados seguindo ordens de uma cabeça dura que teima em não trocar de caminho – na próxima tentativa, talvez, ela não esteja mais lá para molhar meus sapatos já mofados.
Perder você foi como procurar incessantemente uma palavra de meu idioma em um dicionário de língua estrangeira. Todos os dias, todas as horas, como uma função automática que eu exercia sem precisar raciocinar direito; obcecada. Exatamente da mesma forma como te amei, e te amo,
sem parar.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

o sol através do vidro

... ou os tentáculos da lua.

Amor é um pouco como água. Um pouco como vento, um pouco como barulho. Tão fácil de ler se os olhos estão atentos, meu bem, tão claro. Nasce do turbulento, do calmo, do caos e da leveza, em todos os lugares, por acaso, em um tempo incontável e não linear, escondido no espaço, assim como o momento em que tua cabeça se chocou contra meu muro e o universo nos abraçou como filhas. Minha pele ainda arde, mesmo depois dos dias, das semanas, dos meses; arde porque tua humanidade se encontrando com a minha foi armadilha sem razão alguma, fez fogueira nos teus olhos tão escuros e agora queima queima queima fazendo de nós fumaça, nos transformando lentamente em cinzas. Logo nós duas, minha querida, tão parecidas, tão inocentes, iguais na alma e no corpo, tão pequenas...
Surda. Surda – era o que você estava no primeiro momento em que chamei teu nome e ninguém me respondeu. Eu te amo; é o que me lembro de ter dito, mas estava só, tão só quanto apenas os seres humanos conseguem ser, e houve eco. Minha voz sendo obrigada a voltar e a entrar à força nos meus próprios ouvidos, rasgando minha cabeça de uma ponta a outra, me lembrando que sou a única habitante de um mundo estranho que conheci por culpa da solidão.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

um solo solitário

though i said some things to hurt you
well it was only out of fear

(Paul McCartney)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

suor, despedida

eu queria tanto ter dado aquele beijo
que se perdeu no meio do caminho.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Nas sombras.

A pasmaceira corrói minhas arestas como se fossem dentes afiados e famintos que já não sabem mais onde procurar por alimento. O pó sobre todas as nossas coisas, sobre o que não consegue ser mais forte, sobre nós, sobre você. A contagem é regressiva, meu bem, nem tudo pode esperar para sempre. Nem tudo é feito de aço, como eu. Mil caíram a minha esquerda e dez mil a minha direita e ainda que eu não tenha sido atingida, me fere de morte a visão de todos estes cadáveres que se foram sem que eu pudesse mover um dedo. A estagnação me causa torpor. Euforia de não agüentar mais estar sempre parada a espera de uma salvação que teima em não chegar. De noite, as estrelas; pela manhã, o rosto cansado, teu sorriso e a certeza de que tua alegria não tem só nome, mas também preço. Dias longos e o nascer do sol nunca esteve tão próximo da noite – a memória que apaga o que não tem tua lembrança entrelaçada. O coração gelado e todos estes meus sentimentos estragados, como o leite que azedou dentro do copo de tanto esperar por quem o tomasse, e de repente o ciclo chega ao seu fim (começo) outra vez... minhas cartas sem destinatário, data, endereço. Tudo jogado ao vento num súbito surto porque, meu amor, sabe que és apenas humana e tuas limitações são muitas, incontáveis. O peso que cai por cima de teus ombros é imensamente maior do que teu corpo sem estrutura pode agüentar e não é surpresa tua queda. Dentre as tantas quedas que tentei impedir, te segurar no ar, estar no chão junto contigo. I’m not on your shoes, dear, mas tenho teu peito perto o suficiente pra saber quanto sangue estancado há dentro dele. Deixe que as feridas sangrem, meu Deus, permita que as feridas não tenham mais tamanho de tão grandes. É bom que doa, aprende, porque depois da dor vem o clarão que te cega é tudo leve, sereno, mais calmo. Como deve ser. Mesmo que nada esteja em seu devido lugar, minha querida, não se deve deixar que o tédio consuma o pouco que resta. Lutamos com as armas que possuímos, eu, eles, todos nós, quem eu tenho perto e o resto da humanidade. O instinto de sobrevivência é maior porque a vida explode sua imensidão dentro de mim e eu não quero desperdiçar nenhum segundo sequer ao teu lado.
Tenho os pés inchados, tênis sujos de barro, uma expressão mais enrugada do que deveria e dedos amarelos por pensar demais. Usar tanto a mente não é saudável ao corpo e pensar além do que se é natural não é bom para o amor. Não importa o que façamos, ao final o mundo decide por nós, e a mesma avalanche sem fim de tempo que me arrastou para perto de você que agora te leva para cada vez mais perto do tufão que jamais deixará que fenômeno natural algum te traga de volta. E o que eu faria, meu amor? O que eu faria então sozinha e perdida sem você, que me salvou de tantas danações? Não deixe que a ponte desmorone comigo em cima e nem que a tragédia irreversível que está a caminho chegue mais perto. Sê por mim metade do que sou por você.
Os céus sabem que sempre acabo por ceder porque sou frágil e fraca, não me envergonho. Sou uma apaixonada qualquer, não diferente de tantas outras e outros que estão tão desesperados quanto eu, caminhando sem cessar pelas ruas caçando respostas para suas perguntas até em pedaços quebrados de asfalto. Corações estilhaçados, nervos a beira do abismo, a loucura nos convidando para um café, o medo da altura. A vertigem, tão familiar, sempre tão certa quanto tudo o que arranco de mim e escrevo para ninguém. Não me coube escolher, da mesma forma que não te cabe meter o dedo no meio da história para tentar decidir o que virá pela frente. É somente entender que existindo dois lados é preciso saber para qual deles ser mais fraca. Difícil é sentir falta, a ausência te cercando por todos os lados, não saber o que fazer com as próprias mãos. Porque por mais que eu role pelas lamas da vida, sabes melhor do que ninguém, minha querida, que tudo posso naquilo que me fortalece. Eu vou para o lado do amor e não abro.

sábado, 30 de janeiro de 2010

assisti a uma conversa com Deus

i'm so tired
i don't know what to do,
i'm so tired
my mind is set on you.

i wonder should i call you
but i know what you would do...

you'd say i'm putting you on
but it's no joke,

it's doing me harm
you know i can't sleep,

i can't stop my brain,
you know it's three weeks,

i'm going insane
you know i'd give you everything i've got
for a little peace of mind.

i'm so tired,
i'm feeling so upset

although i'm so tired,
i'll have another cigarette.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Clareou.

Amanheceu por dentro de por fora, o dia veio. A brisa ainda é leve. O sol chega, seca as lágrimas, aquece o que a noite esfriou, te carrega pra lá. Vai por dentro, vai voando que teu peso fica aqui, leva apenas este corpo que não te obedece, os sentimentos escondidos nele, seu desespero visceral. Sem ninguém, sem mais ninguém, porque não existe ninguém, porque nunca houve ninguém e isso tudo é fantasia. É sonho e você ainda dorme, se cobre por inteiro feito criança com medo do escuro, sua mãe fugiu de casa, não deixou nenhum carinho em cima da mesa. Meu amor, corre porque viver dói. Foge enquanto tudo ainda é muito branco pra mim, enquanto o café é quente e enquanto a chuva não vem.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Por enquanto

Estamos todos cansados, você sabe. Começamos a contar o tempo a partir do mesmo momento, todos nós, e você sabe que não foi ontem. Tudo o que precisamos é dormir um pouco mais.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

my dear

you and me were meant to be for each other, silly girl.

sábado, 16 de janeiro de 2010

nota sobre amor

de tanto querer ser touro, do chifrudo só levei os cornos.

me fiz em mil pedaços
pra você juntar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

aqueles olhos aflitos.

caio f.

(...) tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca.

domingo, 10 de janeiro de 2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Para não esquecer

Sabe Deus o que deveria eu fazer para me livrar de todas estas nuvens carregadas que pesam mais do que suporta meu peito. Que a distância que me invade não torne a espera insuportável e nem tinja de preto a saudade tão colorida que me move por dentro deste tempo de espera, de lentidão. É doce a companhia do silêncio e de tudo o mais que permite ao pensamento diminuir tudo o que me separa do que vem de longe, porque o que não posso segurar nas mãos é meu, é tudo o que jamais me será arrancado. Quando você deixou de me amar, aprendi a perdoar e a pedir perdão; aprendi também a não por a culpa do que não está errado no pânico de querer ser certo. Foi o Desespero quem me ensinou a estar calma, e não precisei de toda aquela força que tanto me esforcei para acumular. O sacrifício vão custou caro demais à minha sensibilidade tão frágil, tão absurda. Cantei sobre amores perdidos, sobre ser só, sobre a falta de fé e sobre o dolorido de ser o esquerdo. De solidão morri e cheguei ao inferno mais de sete vezes, com um abraço ou um berro. Nem sempre quis estampar na testa a tristeza, mas o visível é esperto e poderoso. O fundo dos olhos diz, baixinho como um sussurro, que já não suporto mais o estupor, que me cansei, que ultrapassei o intolerável mas que mais do que nunca agora posso caminhar em paz. As cicatrizes são muitas, mas não são variadas – são todas iguais até que se prove que existe outra dor. Se corro pelo meio e sem ninguém por perto é porque não tenho onde me apoiar, e alcancei então o equilíbrio que me fazia falta quando a corda bamba balançava e eu só conseguia estagnar e sentir medo sentir medo sentir medo. Sonhava e não sabia o que fazer com as mãos, tremia e ordenava a mim mesma que não mais sentisse que o espaço não me quer, que só existe um corpo onde eu possa morar e que tudo acaba onde chega o final. Não posso mais desejar que a felicidade que não veio a mim não venha a mais ninguém, não devo mais me permitir sentir a inveja que tanto corroeu meu estômago por dentro volte quando quiser. Compreende, meu amor? Compreende agora por que fui obrigada a renunciar à minha vontade de não desistir? Que minha loucura não seja capaz de me impedir os olhos de enxergar que o mundo nunca precisou de mim. Fatalmente passará, passarão. Eu, tu, eles e todos mais que ainda vão chegar. Foi a vontade de ficar que me fez ir embora, porque não posso permanecer se não for para curar feridas, e as tuas nunca quiseram minha ajuda. Vou para o que me chega primeiro, para onde não preciso pedir licença para entrar, para de onde vem o socorro. Bombas-relógio se grudando em mim como tatuagem e eu prestes a explodir pelo que nasceu fora de mim a qualquer momento, ninguém nota como qualquer instante pode ser o último, a não ser eu.